sábado, 5 de outubro de 2013

Por que deixar chorar até que se durma realmente funciona?

Falando de (ou postando... rs) textos de outros sites, me lembrei desse que me ajudou muito quando eu buscava informações de como melhorar o sono do Lucas e pensei em usar um método de um livro famoso...
Amo o site Cientista que virou mãe e indico novamente pra vocês, esse texto abriu minha mente e espero que ajude a quem mais busca por essas informações...





A mãe passou 9 meses sonhando com a chegada do filho, preparando o ambiente para recebê-lo. Comprou um berço lindo, seguro e confortável, pronto para aquecê-lo quando chegasse, onde ele dormiria como anjo em suas sonecas diurnas e no longo e profundo sono noturno. Providenciou um pijaminha quentinho, que o ajudaria a dormir mais relaxado. Ganhou CDs de músicas para bebês, que sonhava em colocar para embalar o sono da cria.
Ela sonhava com uma rotina pós-nascimento linda: banhos de sol todos os dias (já reparou como nos sonhos não chove?), mamadas frequentes e abundantes, brincadeirinhas fofas, beijos, abraços, muito amor, o banhinho de fim de tarde, o pijaminha quentinho, o embalar para dormir, a música tranquila, a mãe cantando uma suave canção de ninar enquanto embala docemente seu bebê que, aos poucos, fecha os olhinhos e simplesmente dorme. Sonho perfeito: o bebê relaxa, dorme, tranquilo e feliz, até o dia seguinte, enquanto sua mãe aproveita o horário noturno para um tratamento de beleza, um retoque nas unhas, um livrinho bacana, um filme divertido, um estudo mais profundo ou um chamego com o companheiro.
Então, enfim, chegou o bebê.
E, junto com o bebê, chegou a vida real, pra acabar com tudo.
Tchau, sonho, um beijo pra você!
Por que raios a vida insiste em se meter nos nossos sonhos?! Nunca dá muito certo isso.


E então os planos não saem bem como o esperado e, de repente, o bebê não quer dormir.
Ele simplesmente quer ficar acordado com sua mãe, em seu colo quente e confortável, porque, afinal, ela é seu porto seguro e ele ainda não sabe que depois do dormir vem o acordar, que o devolverá a mãe que o sono levou. Ele sabe, apenas, que "DORMIU = SEPAROU".
Com a recusa do bebê em dormir, lá se foi para a Terra do Nunca o sonho feliz de Pollyanna.
Polly - vou chamá-la carinhosamente, porque acredito que ela habite em quase todas nós, ainda que se esconda bem - começa a se questionar sobre o que está fazendo de errado.
Será que mamou demais?
Será que mamou de menos?
Será que é a fralda?
Cólicas?
Coceira?
Dor em algum lugar?
Ansiedade?
Será um "bebê high need"? - não gosto muito desse nome, mas voilá.
"O que está acontecendo com meu filho?!"
Então, aquela amiga super experiente em assuntos de maternidade, ao saber que o filho de Polly não quer saber de dormir no horário e na rotina estabelecida (no sonho), que não quer saber de se comportar e de aceitar a rotina da família, prepara sua voadora, pega impulso, sai correndo e PÁ!, acerta em cheio, com os dois pés, o peito cheio de leite de Polly. E dispara (sem nem que alguém tenha pedido sua opinião): "Polly, amiga, meus filhos dormiam a noite IN-TEI-RI-NHA! Isso é MANHA, minha filha. Você precisa ensinar esse menino a dormir!".
E então, Polly se sente ainda pior...
Outras amigas, na tentativa de ajudá-la (todo mundo quer ajudar), também palpitam: "Polly, amiga, esse menino está te manipulando! Está de manha, de birra! Você não pode ceder, com o risco de estar criando um pequeno tirano".
Além de se sentir culpada e de pegar trauma da palavra "amiga" dita logo após seu nome, Polly entristece...
Puxa vida, com que facilidade seu bebezinho se transformou de um bebê normal em um manipulador de adultos! Será mesmo seu filho um pequeno tirano? Um serzinho perverso? Que usa de manhas e artimanhas para manipulá-la? Que fica confabulando sobre qual a melhor estratégia para manipular a tonta da mãe?
Polly entra em crise:

"Céus! Terei parido Darth Vader?!"

Polly se deprime...
Passa a achar que seu filho não é "como os demais", afinal "os demais" (os de suas amigas) dormem a noite toda. De duas uma: ou ela está fazendo alguma coisa errada mesmo, ou terá que admitir: pariu o rei do lado negro da força. Um bebê indisciplinado, manhoso, birrento, manipulador.

Polly então começa a busca por aprender a fazer o filho dormir. E descobre que existem algumas técnicas divulgadas em livros que GARANTEM que o bebê dormirá facilmente em poucas noites.
Polly ouve e lê alguns comentários sobre esses livros, gente dizendo que "Funcionou! É um milagre!", enche-se de esperança, o compra, lê e começa a "domar o seu bebê", no melhor estilo "Como domar o seu dragão".
Então ela aprende que tudo bem deixar seu bebê chorar até aprender a dormir porque, afinal, "por trás de um filho que dorme tranquilo, há uma mãe que dorme tranquila". Polly já tinha ouvido algumas mulheres falando sobre os prejuízos de se deixar chorar para que se "aprenda" a dormir. Gente que pesquisava sobre o assunto e que sabia da existência de muitos trabalhos científicos comprovando os prejuízos do choro como forma de treinamento. Mas Polly não as conhece, como pode dar ouvidos a gente que não conhece?

"E essa história de ciência, vocês vão me desculpar, mas isso não serve pra cuidar de filho, não. E olha: até aquela grande revista já mostrou que não tem problema deixar criança chorar. Até parece que essa mulherada vai saber mais que essa revista, né? Estou tranquila, estou respaldada, vou continuar com meu plano. Afinal, o doutor pedí diz aqui no livro que é infalível e minha amiga disse que funciona, que é um milagre!".

Então Polly começa a colocar em prática o método de treinamento.
Mas aí acontece algo pelo qual ela não esperava: ela não se sente bem.
Não se sente bem porque aquilo, para ela, não parece natural.
Não faz sentido, considerando seus próprios valores, fazer um bebê "aprender" com base no choro. Porque o choro, oras, é um sinalizador de que algo não está bem! Como ignorá-lo? Ler é uma coisa, fazer é outra. Dói em seu coração saber que seu bebê está chorando na tentativa de mostrar que precisa dela, e ela não o atender.
Então Polly decide abandonar as regras ditadas e seguir seu coração.
Vai até o berço, olha para seu filho e sente: não, você não é Darth! Vem com a mamãe, Luke!
O pega com carinho, o aninha em seus braços, junto ao seu peito, e dá seu colo a ele. E então, Luke para de chorar...
Luke queria o colo da mãe, a presença física da mãe, seu calor e as batidas do seu coração. Nesse momento, Polly percebe que, ainda que Luke não durma no horário que ela havia planejado, nem da maneira como havia pensado, uma coisa valiosa acontece: ela está tranquila com sua decisão. Aquela velha história de "o caminho escolhido tem um coração?"...
E por trás de uma mãe tranquila com sua decisão, há, com certeza, um bebê tranquilo.
Polly, então, passa a rever o seu percurso e chega à conclusão de que o erro estava no sonho. Porque embora fosse um sonho lindo, ele pecava em um ponto: desconsiderava totalmente o próprio bebê e sua personalidade. Em nenhum momento se pensou que aquele bebê não conhecia a rotina do lar onde ele chegou, como acontece exatamente com todos os bebês. Ele poderia se adaptar. Ou não. E o fato de se adaptar rapidamente não o torna um super bebê expert pró-master versão uploaded. Ou, ao contrário, o fato de não se adaptar não faz dele um bebê-problema.
Ele apenas é assim. Não quer dormir, quer ficar com a mãe, quer colo. Eu o entendo: colo de mãe é mesmo coisa boa demais.
Mas como é que fica aquele papo de que deixar chorar até que durma funciona mesmo?
Se funciona?
Claro que funciona!
Funciona sim.
E eu vou te explicar porque funciona.
Para isso, façamos algumas analogias.

  1. Um amigo seu pede para que você faça um grande favor a ele, coisa que vai demandar tempo, esforço e deixar suas próprias coisas de lado para ajudá-lo. Você faz de bom grado. Terminada a tarefa, seu amigo dá  tchau e vai-se embora, sem sequer agradecê-la ou abraçá-la. Qual a chance de você ajudá-lo novamente?
  2. Você conquista uma grande vitória no trabalho, chega em casa animada, feliz, e compartilha com seu companheiro a sua alegria. Conta tudo, nos mínimos detalhes. Assim que termina de contar, seu companheiro diz: "Dá um passinho pro lado, por favor? Tá passando Palmeiras e Santos". Qual a chance de você fazer a mesma coisa no dia seguinte, e no outro, e durante toda a semana?
  3. Uma amiga querida combina de te ligar para um café, já que faz tempo que quer te reencontrar. Ela liga uma vez, liga duas, liga três, liga quatro, liga cinco, mas você nunca pode. Qual a chance dela continuar tentando?
  4. Um aluno de 8 anos, em meio à aula, cria coragem e levanta a mão para fazer uma pergunta à professora. Ele pergunta e, na sequência, a professora vira as costas e continua falando sobre o que estava falando antes. Qual a chance dessa criança perguntar novamente?
  5. Você votou em um candidato político. Durante seu mandato, ele foi condenado pela justiça, teve seu impeachment decretado e ficou sem poder se candidatar por anos, por ter roubado uma imensa quantia de dinheiro que era destinada para projetos que ajudariam a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Qual a chance de você votar nele novamente? (Ok, Brasil, pule para a próxima questão, não precisa responder...)

Ok. Acho que deu pra entender a semelhança em todos esses casos, não?
Sabe por que a chance de que esses mesmos comportamentos aconteçam novamente é mínima?
Porque aconteceu o que chamamos de EXTINÇÃO do comportamento.
A extinção de um comportamento acontece quando uma resposta deixa de ser reforçada, ou seja, quando há OMISSÃO do reforço. No caso do aluno de 8 anos que fez uma pergunta, por exemplo, o reforço para que ele continuasse participativo e interessado seria a professora ter dedicado atenção e empatia para responder ao seu questionamento. Como o reforço não aconteceu, então aquele comportamento tende a ser EXTINTO. Ou seja, é um procedimento eficaz para obter a diminuição gradual de algo. "Ahhh, olhaí! Viu?! Então, se eu quero que meu filho pare de chorar e aprenda a dormir, o processo de EXTINÇÃO do comportamento, por meio de não acalentá-lo, não pegá-lo no colinho, está certo mesmo! Ele vai parar de chorar e, enfim, irá dormir!".
Calma, amiga, ainda não terminamos. É preciso saber tudo sobre o processo...

Volte aos exemplos de 1 a 5 e responda: o que terá sentido aquela pessoa cujo comportamento não obteve resposta e que, provavelmente, também será extinto?
Como essa pessoa se sentiu? O que sentiu no momento em que a resposta que ela esperava que acontecesse, não aconteceu? É bom esse sentimento? Ele dá origem a boas coisas?
Como você se sentiu quando seu amigo não te agradeceu ou abraçou e como ficou sua relação com ele depois?
Como você se sentiu quando seu companheiro ou companheira não te deram o retorno emocional que você esperava nesse momento importante da sua vida? Será que rolou um DR depois?
Como será que sua amiga se sentiu - ou se sente - sabendo que você não consegue destinar um tempo a ela?
Como se sentiu o gurizinho de 8 anos quando a professora virou as costas à sua dúvida?
Como você se sentiu quando o seu candidato te roubou, e aos seus amigos, e aos seus filhos, e àqueles que passam dificuldades?
Não. Não são bons sentimentos...

Essa é a dimensão do problema.
Se deixar chorar funciona? Claro que funciona. Um comportamento realmente se extingue quando a resposta esperada não vem. Quando um bebê chora por algumas horas, por alguns dias, querendo o colo da mãe e a mãe, porque está colocando em prática um método que promete salvá-la, não dá aquilo que o bebê pede, ele tende a parar de chorar mesmo.
Agora, como será que ele se sente? O que te faz crer que a frustração e chateação que você sente quando não recebe resposta é diferente da dele?
Onde entra a Regra de Ouro nessa relação? Aquela, que sugere que tratemos os outros da maneira como queremos ser tratados (sádicos, vão dar uma voltinha agora, essa pergunta não é para vocês).

Os métodos baseados na extinção do comportamento realmente são válidos. Quase sempre.
Mas será mesmo que devem ser utilizados sempre, como um "guia"?
Pollyana não conseguiu. Ela se sentiu ferida por imaginar que os sentimentos do seu filho também poderiam estar sendo feridos.

Nesse método baseado em tentar extinguir o comportamento de chorar daquele bebê, podem acontecer alguns problemas, totalmente previstos pela teoria psicológica.
Um exemplo: se a mãe decidiu (mesmo que ela mesma esteja sofrendo com isso) ignorar o choro, ou não pegá-lo no colo, deixando o bebê chorar até que durma, mas o pai não conseguiu, ou a avó, ou a amiga, ou qualquer pessoa por perto que se sentiu aflita com o choro, e essa pessoa invadiu o quarto e pegou a criança no colinho, PREVEJA O EFEITO DISSO. A criança sabe que pode ser acalmada por um colinho, a família sabe que pode acalmar o bebê com o colinho, e o bebê sabe quem deu e quem não deu o colinho. E se você acha que, assim, está criando um tirano: desculpe, mas não é ele quem está no lado negro da força. Não acho muito coerente demonizar as crianças quando somos nós quem estamos negando acolhimento para que "aprendam o que queremos que aprendam, com base no nosso sonho ilusório".
Outra questão: a própria teoria afirma que, em algumas situações, pode ser cruel privar aquele indivíduo da atenção da qual precisava - e o CHORO é uma dessas situações. Porque o choro é um claro sinalizador de que algo não vai bem, indica dor, sofrimento emocional ou outra necessidade. Se uma criança está chorando e já é possível dialogar com ela, então que façamos isso. Mas um bebê tem no choro sua principal forma de comunicação. Não parece muito razoável que os ensinemos a deixarem de se comunicar quando precisam de algo, não é?
Uma última questão: o método da extinção do comportamento apresenta mais um ponto delicado. O processo de extinguir um comportamento (em nosso caso, o choro que antecede o dormir sozinho) pode produzir agressividade. Ah vá, que ninguém te contou?!
Por agressividade não estamos considerando somente a violência em si, mas a amplificação do comportamento que se quer extinguir. Ou seja: se o bebê foi deixado chorando, com a esperança de que, omitindo o acolhimento físico, ele vá se acostumar e finalmente dormir, esteja preparada para o fato de que ele pode, SIM, chorar ainda mais, no lugar de simplesmente dormir. Essa é uma situação prevista pela teoria.

É isso.
Se o método funciona?
Claro que funciona.
Ele para de chorar por extinção do comportamento e, com o tempo, dorme sem chorar - ainda que sua mãe não o embale - por condicionamento. A mãe o condicionou a isso. E ele não chora mais quando colocado para dormir sozinho porque aprendeu que não adianta chorar que sua mãe não vai pegá-lo no colo. Se alguém te disse que o que ele aprendia era "a dormir", te enganaram...
As teorias psicológicas não são mera teorização. Nossos comportamentos cotidianos, dos mais simples aos mais complexos, podem ser explicadas por elas.
Mas há que se ter sempre em mente os resultados das escolhas.
Sempre.
Não é ético ignorar uma parte do processo apenas porque ele não é tão bonito quanto você esperava que fosse. Também não adianta fingir que não existe.
O ideal é conhecer a fundo tudo, para que se possa escolher.
Polly não nasceu sabendo ser mãe - assim como todas as suas amigas. E as amigas das amigas.
Mas Polly preferiu ouvir seu coração que, de certa forma, é muito mais coerente com o que acontece no íntimo do seu bebê. Polly pegou para si a RESPONSABILIDADE de ser guiada por seu sentimento em relação ao filho. E pegar para si a responsabilidade disso é assumir os riscos inerentes. Porque uma coisa é dizer: "Mas eu só fiz o que o livro mandou" e outra bem diferente é dizer: "Sim, eu fiz porque eu quis, porque assim senti que devia fazer". Ainda assim, para Polly, foi muito mais tranquilizador do que simplesmente seguir um método que - SIM! - funciona.
Às custas de que? Aí é outra história. Que não é todo mundo que quer contar não...
Hoje, Polly e Luke (ou Padmé) vivem mais conectados. Luke sabe que, na hora de dormir, pode contar com o colinho de sua mãe.
Ainda que ele não durma do jeito que ela sempre sonhou...

E quem disse que nossos sonhos contêm aquilo do que realmente precisamos para sermos felizes?
Afinal, é na vida - e não no sonho - que vivemos.
Cuidado você deve ter, com fórmulas e métodos que salvadores se dizem. E também com os que, de manipuladores, as crianças chamam .
Já diria Mestre Yoda.

Existe uma mãe modelo ou um modelo de mãe?

Hoje em conversa com uma amiga, lembrei desse texto maravilhoso que li no site Vila Mamífera (muito bom, recomendo gente!) e resolvi postar aqui também, pois sempre nos culpamos porque a fralda vazou, porque ele gorfou, porque seu filho mais velho teve cáries, porque ele caiu, porque tomou sol demais, porque o pernilongo o picou... enfim, somos tão culpadas assim? Porque não somos como as mães do comercial de margarina? Ou aquelas das novelas, ou as super mães das telinhas de cinema? Será que Deus em sua infinita sabedoria nos deu um filho que não temos capacidade de cuidar? Será que nossos instintos são são o bastante? Será que exite uma mãe modelo ou um modelo de mãe?

Fonte: http://vilamamifera.com/mamiferas/gisele-bundchen-os-modelos-de-mae-e-a-maternidade-ativa/



Muitas amigas vieram comentar comigo a capa (supostamente) bacana de uma revista de celebridades, que esta semana estampou a modelo Gisele Bündchen com seus dois filhos no colo, por trás da estridente manchete em letras garrafais: ‘mãe modelo’. Gisele, como (quase todos) já sabemos, é adepta do parto natural e domiciliar, do aleitamento materno, da maternidade ativa, afetiva e consciente, e tudo mais.

Correndo o risco de ser considerada a chata-de-plantão-que-nunca-está-satisfeita-com-coisa-nenhuma, já vou dizendo que torci o nariz, #prontofalei. Mas eu explico: para além do (infame) trocadilho do título da matéria com a profissão de Gisele, a grande pisada no tomate da capa em questão (já adianto que não li a matéria e nem vou, falo apenas da chamada e da ideia vendida ali) é cair no (pisado e repisado) equívoco de personalizar um modelo materno, querendo definir o que seria a (óóóh) ‘mãe ideal’.

Equívoco, porque a gente já está mais do que careca de saber que isso não existe, é a maior balela, o maior tiro no pé, roubada das grandes, mesmo. Essa coisa de querer criar um ‘check-list’ da mãe bacana-natureba-orgânica-humanizada-cool-mamífera-roots-blábláblá. Piração, das boas.

Equívoco, porque como (quase todos) já sabemos, não existe ‘A’ mãe ideal. Existe a mãe que eu quero ser. E a mãe que você quer ser. E a mãe que a sua melhor amiga quer ser. E a mãe que a prima da vizinha da cunhada do padeiro quer ser. E existem escolhas. Existem caminhos. Existem possibilidades. E estampar uma mãe – Gisele, Francisca ou Maria, não importa – e conceder a ela o título de ‘mãe modelo’ reforça a ideia, totalmente errada, de que há um único jeito de maternar com consciência, com protagonismo, com afeto e responsabilidade.

Equívoco, porque cada mãe faz as escolhas possíveis dentro da própria realidade, levando em conta as suas prioridades, crenças, desejos, possibilidades, limitações – todos pessoais e intransferíveis. E como (quase todos) já sabemos, a maternidade (e aliás, a vida, em última instância) não é pista de corrida, não tem troféu nem pódio esperando pelo vencedor. A competição está na cabeça de cada uma, e em nenhum outro lugar. E esse papo de ‘mãe-modelo-de-qualquer-coisa’ acaba servindo só para reforçar animosidades, acirrar disputas, despertar inseguranças. Nada de bom, nada que ajude.

Equívoco, porque querer eleger um modelo (de maternidade, ou de qualquer outra coisa) faz esquecer que dentro de cada caminhada há escorregadelas, concessões, desvios e conquistas. Em todas as histórias, sem escapar uma. Você – é, você mesma, que me lê agora – certamente tem, neste ou naquele quesito, atitudes teoricamente mais ‘mamíferas’ do que as minhas, ou do que as da Gisele. E vice-versa. Eu, na minha caminhada materna de todos os dias, elejo aquilo que é importante. Como você faz também, vendo as coisas pelos seus olhos. E como fazem a Gisele, e a Francisca, e a Maria. Certas coisas serão fundamentais para mim, dispensáveis para você. E aquelas das quais você nem pensaria em abrir mão, talvez passem batido por mim. Certo? Errado? Nossa, tem tanta maravilha entre uma coisa e outra!

Pensemos em Gisele Bündchen, a modelo-mãe, a mãe-modelo, ou como queiram. Ela pariu em casa, amamentou, carrega no sling e blábláblá – e nesses pontos, #tamojunto. Mas ela, até onde eu sei, usa fraldas de pano (lembro de ter lido sobre isso em algum lugar, desculpem-me a falta de memória que me impossibilita de citar a fonte), coisa que eu não cogitei fazer, com nenhuma das três filhas. Em que isso a faz melhor do que eu? Em absolutamente nada. Eu, por outro lado, não furei a orelha das minhas meninas, como forma de respeitar seu corpo, de evitar intervenções desnecessárias. Gisele furou as orelhas da filha caçula. Em que isso me faz melhor do que ela? Em absolutamente nada.

Eu daqui, ela de lá (ela com uma conta bancária beeeeeem mais polpuda do que a minha, mas isso não vem ao caso!), vamos fazendo nossas escolhas. Caminhando da melhor maneira possível. Elegendo o que é importante, deixando algumas coisas de lado, num esforço consciente e determinado de todos os dias para vivenciar uma maternidade ativa, empoderada, consciente, amorosa. Não tem melhor, e não tem pior. Tem o meu, o dela, tem o seu e tem o do outro. Simples assim.

Modelos, para qualquer coisa na vida, são uma grande furada. Porque seres humanos são incomparáveis – nisto reside a nossa maior beleza. Querer enquadrar uma infinidade de pessoas diferentes, todas únicas em suas especificidades, em um modelo único, é limitar o que não pede limite – aliás, o que fica muito mais bonito sem qualquer tipo de limitação.
O único modelo de maternidade que você deve se esforçar para seguir é aquele que você enxerga quando olha no espelho de coração aberto: a melhor mãe que você pode ser. Isso não significa, de modo algum, ‘largar mão’ e fazer de qualquer jeito – significa apenas saber o que é importante para a mãe que você quer ser, eleger as suas prioridades (suas, e de mais ninguém) e batalhar por elas.

Então, por favor: menos modelos de mãe, e mais mães de cara limpa, de coração aberto, sem medo de mergulhar na experiência e cheias de vontade de dar o melhor de si. Bem mais bacana, né?

Tentando engravidar

Depois de vários meses sem postar nada por aqui, resolvi voltar a ativa. Tenho trabalhado bastante e tido pouco tempo pro blog, mas como sem...